Cena do filme Apollonide - Memórias de Um Bordel (Bertrand Bonello) |
O Homem que não sabia amar
Personagens Principais:
- Morgana, mulher de 48 anos, meretriz de longa data, cruel, apática, longos cabelos negros encaracolados, excesso de vermelho e preto nas vestimentas e maquiagem.
- Augusto, 20 anos, bonito, pele clara, traços marcantes, solitário, não se prendia em relacionamentos, frequentava muitas festas.
- Viviane, 19 anos, traços finos, beleza marcante e jovial, a mais nova no bordel, cabelos loiros e vestimenta não muito vulgar.
Narrador: - Essa história se passa em um local onde desejo e dinheiro são as principais formas de se conseguir o que pra alguns é a chamada felicidade. Numa
Paris antiga marcada pelos bordéis, indústrias e proletariados...
A luz é focada em Augusto trabalhando na fábrica e sozinho.
Narrador: - Augusto, um rapaz sofrido que desde os 12 anos trabalha
nessa fábrica, uma construção que se aproveita de cada gota de suor dele, o pior é que além de
tudo ainda tem uma mãe, se é que ela pode ser chamada assim...
As luzes se apagam e o foco retorna pouco tempo depois em
Morgana vestindo-se.
Narrador: - Morgana, mãe de Augusto, eu particularmente prefiro chamar
de progenitora, tem um único filho, pois os outros não tiveram o azar de
sobreviverem para conviverem com ela, morre dizendo pra Augusto que criou a
placenta e jogou a criatura com cara de joelho fora: o bebê. Morgana vive com
inveja da nova meretriz que acaba de chegar, Viviane...
As luzes se apagam e ao retornarem aparece Viviane chorando.
Narrador: - Essa acho que nem sabe direito porque está aqui, mas enfim,
é a única que eu salvaria de um incêndio desse bordel maldito, estraga a vida de
tantas mulheres e de homens que gastam muitas vezes todo o seu dinheiro aqui.
Apagam se as luzes novamente e a mesma retorna pausadamente com Morgana
e Augusto conversando
Augusto: - Cada um deveria ter o direito de escolher o que fazer Madame,
me enfiastes naquela fábrica, nunca nem aproveitei minha juventude e
ainda tenho que entregar todo o dinheiro a você.
Morgana: - Claro, sou sua mãe imprestável, o que mais queria?
Augusto: - Não venhas me falar de mãe agora, nunca nem me deixou
chamá-la de tal coisa,
Morgana: - Poupe-me dessas palavras inúteis, eu fui criada por várias
mulheres que me pegavam naquele orfanato e o mundo praticamente me jogou aqui nesse
bordel, tem sorte que aqui não vendemos os homens também, poderia usar sua
beleza a seu favor, bom, eu aprendi a fazer isso e até consigo gozar da felicidade
dos tolos.
Viviane entra e pega um casaco no quarto, olha para Augusto, pausa e sai
do quarto.
Morgana: - Já viu a nova garota? - Quer dar uma de santa para Madame
Justine, finge não ter experiência, affz, essas putas pobres.
Augusto: - Não será inveja isso? - A garota até que é bonita, deve dar uns bons bifes.
Morgana: - Nesse ponto você aprendeu comigo, a não se envolver com as pessoas, tolos os que acreditam no amor, e eu quando nova pensei em estar apaixonada pelo padeiro, o seu pai...
Augusto: - Meu pai não era açougueiro?
Morgana: - E faz diferença agora? Poupe-me.
Augusto: - Não será inveja isso? - A garota até que é bonita, deve dar uns bons bifes.
Morgana: - Nesse ponto você aprendeu comigo, a não se envolver com as pessoas, tolos os que acreditam no amor, e eu quando nova pensei em estar apaixonada pelo padeiro, o seu pai...
Augusto: - Meu pai não era açougueiro?
Morgana: - E faz diferença agora? Poupe-me.
Augusto: - Enfim, não é que eu não me envolva, mas você foi a primeira a
me negar isso, pensa que não sei que fui alimentado por outra mulher?
Morgana: - Judith foi a única peste que arranjei, engravidou na mesma
época que eu, te alimentou só por 8 meses, depois Madame Justine a expulsou
porque a imprestável ainda ousou ter um filho feio, você teve sorte de não ser
jogado, Judith disse que ia cuidar de você...
Augusto a interrompe e diz: - Cansei de me lembrar desse passado, só me lembro das pessoas que não queriam falar comigo.
Morgana: - Você é filho de uma puta, queria ser tratado como um burguês?
Augusto: - Queria ser tratado como gente.
Morgana: - Chega, também cansei das suas amarguras inúteis, vou
trabalhar que eu ganho mais.
Morgana sai e Viviane entra para se arrumar
Viviane: - Pode se retirar?
Augusto: - Por qual motivo? - Conheço todas as mulheres daqui, você é
apenas uma novata.
Viviane: - Ainda assim quero que saia.
Augusto se aproxima e pergunta: - Realmente quer que eu saia?
Toca em sua perna levantando o vestido negro que evidenciava a pele
branca de Viviane
Viviane: - Sim, você seria só mais um na minha lista vasta de clientes. A mesma o afasta com um empurrão.
Augusto: - Poderia até começar como cliente, depois você possivelmente
me pagaria para saciar seus caprichos, se apaixonaria num piscar de olhos como
muitas outras pobres mulheres.
Viviane se afasta de Augusto e com uma expressão irônica diz: - Eu, me
apaixonar por você? - Não tenha tanta certeza, agora SAIA.
Augusto: - Vou sair, mas te esperarei no meu quarto, tá aqui o dinheiro como um adiantamento.
Um maço de dinheiro é jogado no chão todo amassado e com um movimento de menosprezo Augusto começa a caminhar até a porta.
Um maço de dinheiro é jogado no chão todo amassado e com um movimento de menosprezo Augusto começa a caminhar até a porta.
Viviane: - Tem certeza? - Todos até hoje se apaixonaram por mim, ficam
loucos, por isso Madame Justine me chama de pérola, sou a que dou mais lucro
aqui.
Augusto a interrompe dizendo.
Augusto a interrompe dizendo.
Augusto: - Não se preocupe, não acredito nisso, eu não sei amar.
Este texto foi desenvolvido
durante um curso de
dramaturgia organizado
pelo Departamento de
Cultura da UFRR e a Funarte.
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